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segunda-feira, 23 de agosto de 2010

APODRECIMENTO CONTÍNUO - citando Hugo Ribeiro

Paulo Bento era "forever", Pedro Barbosa não dominava a arte do auto-marketing, Ricardo Sá Pinto era intempestivo, Carlos Carvalhal tinha "tarimba" mas não tinha estaleca nem carisma, Salema Garção estava cansado Marco Caneira foi encostado, João Moutinho era a maçã podre, Miguel Veloso amava o clube mas saiu por um preço sub-bebé. E Bettencourt? O discurso mudou, passou de amador entusiasta a sofredor, as palavras agora ecoam um tom laborioso, repetitivo e acima de tudo redundante, desgastado, acabou a ilusão mas "the show must go on".

Mudam-se os treinadores, dispensam-se os jogadores, é remodelado o modelo de gestão da SAD, trocaram o Director de Comunicação, três directores desportivos em um ano, querem criar canal de televisão e revista oficial, querem promover a "Marca Sporting" nos states... Querem promover o quê exactamente? Haverá quem queira comprar?

Como diria a canção "Everything Changes", bom, nem tudo, na equação Sporting podem entrar factores e sair outros, mas o factor JEB prevalece como que se fosse a única constante do universo. Nesta noite nas bancadas Bettencourt, tabagista como sempre, sugava a nicotina e disfarçava a sua impavidez e impotência a observar um filme que já todos viram na época passada, e ele secretamente desejaria estar algures, qualquer outro lugar, desde que não fosse ali, queria que o tirassem daquele filme, aquela longa-metragem que ele produziu (com o dinheiro do clube) mas que se adivinha ser mais um flop de bilheteira numa época festival uma vez mais dominada pelos "blockbusters" a cores vermelhas e azuis.

Moutinho no passado recente era maçã podre? Mas o ex-capitão também seria maçã podre quando encheu a banheira de Roterdão em 2005 e deu um festival de bola ao Feyenoord quando tinha apenas 18 anos? Seria ele maçã podre quando levantou duas taças de Portugal e duas Super-Taças? Seria ele um fruto podre quando conduziu a sua equipa nas quatro épocas pré-Bettencourt a quatro qualificações para a Champions?

Então, podemos deduzir que Moutinho nem sempre foi uma maçã podre, mas sim que alguém o apodreceu, alguém o estragou. O "jardim" de que fala o fruticultor de Alvalade seguramente será o Sporting, a sua Academia e o seu Estádio. O Sporting durante 4 anos ficou 4 vezes em 2º lugar, 4 entradas directas para a CL, e de todos os seus talentos apenas vendeu Nani por valores que na altura muitos terão inclusive achado exagerados.
Findos esses quatro anos, aportou no Sporting a demagogia Bettencourtiana, chegaram os "forever", chegaram os "quem não salta é lampião, allez", chegaram os "até os comemos", chegou "a cagança", chegaram os "discursos de adepto" à melhor moda de Alberto João Jardim, discursos de um adepto que sem saber ler nem escrever se tornou presidente e em 12 meses conseguiu destruir a herança do seu antecessor desbaratando uma equipa, fragilizou terminalmente um treinador que ele dizia amar e que tinha desfrutado de quatro anos de solidez com o regente anterior.

Num acto de desespero total, num ataque de pânico, numa tentativa desesperada de recuperar o clube da mediocridade a que o submeteu e devolver o mesmo à mediania em que o encontrou, eis que ele decidiu alterar tudo. Custe o que custar, afinal de contas, o gestor é aquele que brinca ao monopólio com o dinheiro dos accionistas, seja onde for, custe o que custar.

Dispensou jovens, como bom fruticultor que é decidiu vender os talentos ao preço da "uva mijona",e decidiu fazer limonada com limões velhos quando contratou jogadores sem margem de progressão nem capacidade para se valorizarem no mercado, e ao mesmo tempo apostou forte em mais marketing. Um ano depois das apresentações dos novos adeptos - a maioria dos quais nem sequer paga as quotas - decidiu apostar na abordagem Hollywoodesca com produções recheadas com elencos de luxo e supervisionadas pela "Garage" e eis que vieram César Prates, Beto Acosta, De Franceschi, etc. Será ainda o Sporting um clube de futebol ou será agora uma multinacional mal gerida que agora atravessa uma crise de meia idade onde quer tentar algo completamente diferente e agora se julga a "Tobis de Alvalade"? Em Alvalade empregam-se futebolistas e dirigentes desportivos ou fazem-se pós graduamentos em marketing?

A época correu mal? Então convém alguma "maquilhagem" trazendo as caras novas para trazer "a nova ilusão", e as caras vieram, vieram os monstros sagrados do Sportinguismo; Costinha, Nuno Valente, Jorge Cadete, Maniche, etc. Com a cara lavada, a época anterior foi esquecida e da próxima vez não falhariam, pelo menos convém que quem paga as Gameboxes acredite nisso.

Era necessário terapia de choque, se o que tinha funcionado entre 2005 e 2009 havia deixado de funcionar em 2010 então porque não destruir tudo? Custe o que custar... Porquê manter titulares indiscutíveis como Moutinho, Veloso e quem sabe... Patrício quando se poderia ir buscar jogadores na recta final das suas carreiras? Porque não?

O importante é fazer algo radicalmente diferente. O clube está atrelado a uma divida de 400 e tal milhões de euros, mas se a época corre mal então algo tem que ser feito, José Eduardo Bettencourt começa a fazer lembrar Bill Clinton pelas piores razões, pois parece que só faz algo quando os media estão por perto, só faz terapia de choque quando é preciso distrair as atenções dos seus falhanços. Depois do ex-presidente americano, eis que surge um outro "Photo-Oportunity President" pois a vida para alguns não vale a pena ser vivida a menos que seja capturada para a posteridade de forma fotogénica e telegénica. Ora venham daí 7 milhões para o Pongolle e no final do verão vendem-se os "podres" para financiar os Pongolles, Torsiglieris e tutti quanti, e quem sabe uns Corradis e mais um central, mais um goleiro, enfim, venham muitos mais pois o importante é a percepção da ilusão, há que dar espectáculos à plebe no "Coliseu das contratações", há que encontrar os Herri Batasunas desta vida e apontar-lhes o dedo, convém fazer tudo isso e depressa antes que a plebe se vire contra o seu César.

Paulo Sérgio a partir dos 70 minutos perdeu a calma, irrequieto, a suar profusamente, denunciava a sua ansiedade depois de poucos meses antes prometer que estava "ali para ser campeão" e não para "discursos lamechas" nem "para encurtar distâncias". Mas no final do jogo o discurso dele fazia lembrar o discurso de analista positivista, o mesmo discurso que outro Paulo utilizava entre Agosto e Outubro da época transacta. Regressaram os clichés "não vencemos, MAS" existe sempre um mas, "merecíamos outros resultado", talvez a derrota por 0-2 ou 1-2? Também "fizemos coisas boas", "há que levantar a cabeça", "vamos dar a volta por cima", o "grupo está unido" etc. ... afinal esquecendo o resultado o que mostrou o Sporting esta noite? Ausência de fio de jogo, alívios constantes da defesa para o meio campo ao melhor estilo de um Everton de 3 ou 4 décadas atrás, e remates à baliza que parecem ter sido ensinados por um otorrino tantas foram as vezes que acertaram nas orelhas do esférico.

O Sporting para justificar a sua mediocridade nos passados 12 meses tem falado muito de orçamentos, será que o Sporting de Braga tem um orçamento superior ao Sporting de Lisboa? Será que o Paços de Ferreira tem uma tesouraria mais abastada que o clube de Alvalade? Desculpas, manobras de diversão, alibis e muito marketing é o que abunda no 3º andar do Multideportivo, alibis que não serão herméticos eternamente, a paciência começa a esgotar-se, os adeptos estão cansados de uma direcção tecnocrática e burocrática que se exprime com um dialecto economicista e usa metáforas contabilísticas para justificar a sua inépcia.

O problema será orçamental, será uma questão de talento, uma questão de infra-estrutura? Os verde-e-brancos entraram em campo com dois dos melhores laterais do país, dois centrais promissores embora um deles tenha rendido Pedro Mendes na sua posição habitual, um Maniche movido a pilhas Duracell, um Matías que é inconstantemente genial pelo meio mas que não encaixa nem nas alas nem no miolo de um 4x4x2 clássico. Um Valdés que indiscutivelmente tem classe e dois avançados que em forma estão ao nível do clube que representam. Então porque perdeu o Sporting?

Moutinho alegadamente terá dito que o "Sporting era uma merda" e que faria tudo para sair do clube, quem hoje viu Sporting jogar, quem viu os de Alvalade adormecer na Dinamarca e estremecer em Alvalade nos 2 jogos anteriores, poderão essas pessoas questionar a "podridão" de Moutinho? A podridão como lhe chama Bettencourt é a ambição de querer mais, de estar insatisfeito com a mediocridade, querer mais é algo que parece estar para além do Sporting dos passados 15 meses. Haverá mais maçãs podres em Alvalade e será que o supervisor de jardinagem terá culpas no cartório? Para quem é ambicioso e tem talento, permanecer neste Sporting deve de facto ser um martírio profissional. Moutinho não se transferiu para fora do Sporting, Moutinho evadiu-se para fora do Sporting, e a menos que os verdadeiros podres sejam banhados com DDT, outros ambiciosos se quererão evadir desta Ilha do Diabo no Lumiar plantada.

Na última década o Sporting tornou-se um trampolim uma "stepping stone" para que os jogadores jovens ambiciosos se pudessem mostrar e depois dar o salto, assim foi com Ronaldo, Nani, Quaresma, Viana, etc mas tal tem sido o naufrágio leonino no último ano que agora os talentos nem sequer procuram refúgio no estrangeiro e contentam-se em procurar asilo político noutras equipas portuguesas. Até onde poderá descer este Sporting, estará longe o dia em que algum dos seus jogadores vai submeter um pedido de transferência pedindo para ir para o SC Braga porque quer lutar pelo título? Estará distante o dia em que os ex-juniores preferem ser emprestados a ficarem numa equipa leonina que roda com os pneus na lama mas por mais que acelere, por mais que gaste, por mais que contrate, por mais que demita ou dispense simplesmente não quer mudar de condutor e prefere levar o seu automóvel ao stand para trocar metade das peças todos os verões?

A vida é como uma piscina, numa margem temos pé e na outra temos que saber nadar. O Sporting é uma piscina muito funda e onde os nadadores amadores estão condenados ao fracasso se entram nas águas profundas com nada mais do que algum entusiasmo e idealismo. Bettencourt há muito que não tem pé na piscina verde-e-branca, desde que foi eleito que se tem vindo a afogar publicamente e espalhafatosamente, e para mal dos seus pecados agarrou-se ao Sporting e está a levá-lo com ele para o fundo, está a ser uma submersão dolorosa, lenta e francamente embaraçosa.

Um clube supostamente grande que não vence na Mata Real na psicologicamente sempre tão importante 1ª jornada então dificilmente poderá aspirar a algo mais que outro 4º lugar. Não há marketing nem ilusão que mude isso, nem há adepto que gaste dinheiro a consertar um navio que se prepara para naufragar, outra vez. Que se lixem as aulas de natação, venha daí mais cagança, mais chavões, mais clichés e mais uns Corradis antes que a plebe vá em busca do seu Nero enquanto Alvalade arde a céu aberto e o seu Imperador toca a sua harpa do desejo, à vista das labaredas que ele próprio fomentou.

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