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quarta-feira, 12 de agosto de 2015

TRIBUTO A JORGE GONÇALVES

                                             OH JORGE! NÃO PODIAS FAZER ISTO!

Dia 12 de Agosto fui apanhado de surpresa com um telefonema de um amigo de longo data com a notícia mais triste que poderia ter de um outro amigo: JORGE MANUEL ALEGRE GONÇALVES.

Inicialmente pensei que tivesse sido vítima de algum atentado apesar de saber que andava com a sua própria segurança quando era necessário, mas deixar cair tudo colocando o fim à longa batalha nesta Terra, ainda não acredito. Jorge, não podias fazer isto!
Há décadas que conhecia o “bigodes” e as ligações ao meu pai já eram anteriores por termos todos bebidos água do Bengo em Luanda. Atravessou momentos muito difíceis e revoltantes de disparates, mas também de muita injustiça dos homens com histórias mal contadas no mundo desportivo e empresarial. No final da década tornou-se conhecido em Portugal com eventual contratação de Frank Rijkaard para o Sporting Clube de Portugal, mas já antes tinha tido momentos de glória no desporto, por ser campeão na Vela em Angola e se não fosse o período conturbado da independência muito provavelmente teria atingido outro patamar.

Recordo as invejas que causou na direção de Amado de Freitas, onde pontificavam vaidades e protagonistas rebeldes. Não esqueço as palavras sensatas do então Presidente Amado de Freitas dizer-me que o clube não tinha dinheiro e o Jorge ia dar uma ajuda, mais tarde tudo se precipitou e dois meses depois ser Presidente o ex-Vice Presidente José Dias afirmou-me que o Jorge Gonçalves era um homem bom, mas o Dias Ferreira tinha enganado todos na venda precipitada do Frank Rijkaard. São histórias que estão por revelar, se é que um dia se saberá a verdade toda.

Não esqueço todo o processo eleitoral de 1988 em que sempre se soube que o treinador do Sporting com o Jorge na Presidência seria Manuel José, no entanto depois de tomarmos posse, nessa mesma noite alguns dos Vice-presidentes assumiram a rotura e chantagearam-no, obrigando-o a procurar outra solução e uma série de invenções. Seguiram-se períodos conturbados com uma teia de oportunistas em seu redor e a abusarem da sua magna tolerância. Sem esquecer uma reunião dos órgãos sociais do clube, estivemos reunidos até madrugada e na manhã seguinte fomos confrontados com um comunicado do Conselho Fiscal que tinha sido apresentado na reunião e rejeitado, mas afinal teria sido enviado para as redações antes de entramos em reunião. Principais visados daquela fuga premeditada: Artur Baptista da Silva, João Costa Figueira na altura presidentes e vice-presidente do Conselho Fiscal (este último sogro de Sérgio Abrantes Mendes por sua vez Presidente da Mesa da Assembleia Geral).

Porquê contar tudo isto? Porque é preciso saber e conhecer o homem sonhador e idealista e que teve mundos e fundos ao dispor para ser um “super-milionário” mas preocupou-se em demasia com o bem dos outros e muitas vezes não quis ajustar contas, acreditando noutras justiças.

Muitos episódios, da sua vida partilhou comigo e sempre procurei manter uma amizade e um respeito pela dignidade do homem que era. No final da década de noventa fui reencontrá-lo num crescimento próspero em Luanda, mas ainda sem a vida faustosa que muitos apregoavam em Lisboa que ele tinha. Talvez, tenha sido nessa época que alguns portugueses que se encontravam de passagem por Angola o souberam aceitar e compreender.

Já nessa altura estava identificado nas contas do Sporting que ele era credor em muitos milhões de escudos, algo que o seu sucessor Sousa Cintra sempre procurou apagar na contabilidade financeira e que mais tarde os sucessores na presidência tiveram receio de assumir a verdade da história face às eternas traições que um clube desportivo é pródigo. Aqueles que ao longo dos anos se têm servido do clube e da sua imagem que nesta data tenham um pingo de remorso sobre o que fizeram e abusaram de Jorge Gonçalves.

Não esqueço no início do Século no dia em que aterrou em Lisboa e depois da sua longa ausência ia comprar um bilhete para assistir à apresentação do Sporting no Estádio (antigo) e queria ir para a bancada junto da Juventude Leonina ao que retorqui que era impensável, o lugar dele era na Tribuna Presidencial, senti um imenso brilho nos seus olhos e disse-me que não acreditava que isso fosse possível. Liguei para Mauricio do Valle e para Isabel Trigo Mira entre outros e de todos tive a mesma resposta que tal desiderato não era fácil por causa do passado e uma série desculpas. Até que finalmente, consegui falar com António Dias da Cunha e passado meia hora tinha os convites para a Tribuna presidencial, tendo recebido um telefonema do diretor de relações públicas informando que seriam lugares laterais na Tribuna e que teria de ser eu a acompanhá-lo. De todos senti um certo pudor lidar com um homem que tinha sido presidente do Sporting e que a vida causou-lhe infortúnios mas deixou crédito no Clube, ficando a pergunta o que se faz aos outros que maltrataram o clube e deixaram prejuízos e em certos casos foram ressarcidos com juros elevados.

Mas, uma vez te digo Jorge não podias ter feito isto!

Não esqueço por onde andou a maioria das pessoas manifestavam um carinho especial e o azedume sempre veio daqueles que se aproveitaram dos seus momentos de glória, mas foram os primeiros sempre a desaparecer nos seus períodos de infortúnio.

Apetece-me revelar muito mais porque a justiça leonina sempre tardou em ter efeitos práticos. Se tal tivesse acontecido mais cedo e passando ele as dificuldades que hoje são públicas talvez se tivesse evitado este desfecho na vida. Jorge, sempre soubeste animar a malta e saber esperar que tudo se resolveria, nem os tribunais em Portugal que no passado foram desastrosamente morosos te condenaram em nada, mas também não quiseste acreditar que terias de recorrer aos mesmos para seres ressarcido do que perdeste materialmente e imaterialmente.

Nos últimos meses voltaste acreditar em alguém que preside ao clube que te iria repor na dignidade plena sendo ou não ressarcido na divida, há muito que te tinha dito que não contasses com tal desfecho, no entanto nunca transmitiste a tua real situação nos últimos tempos. Deixaste-me com o teu último e-mail no passado dia 6 de Agosto sobre uma visão do que é amor. 

Não era teu hábito aquele tipo de correio?!

Jorge tanta recordações boas e menos agradáveis, como por exemplo, aqueles momentos faustosos em Portugal e Angola, e o contrário em que faltava o vil metal até para certas refeições.

Jorge, não podias ter feito isto! “Bigodes” até um dia!
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