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quinta-feira, 28 de maio de 2020

CITANDO CÂNDIDO FERREIRA

Todos somos Sporting! Mais um título tão mais “populista”, sobretudo se usado por um adepto confesso de outro clube. A verdade é que, por inexplicável razão, uns dizem que por bom e outros por mau gosto, em minha casa até os gatos – Taliscas, Mantorras e Rafas - são do Benfica. E mesmo alargando muito a família, até parece feitiço. Só há um primo que não bate a bola como nós. Mas esse foi afastado do nosso convívio por “mudar de clube” conforme as suas conveniências. Certamente se sentaria à nossa mesa, como igual, se fosse coerente nas suas opções clubísticas e também cívicas. Vem este “preparo” à custa de mais um incidente judicial ocorrido nos últimos dias, ao caso mesmo junto ao centro da “princesa” Cascais, muito próximo do local onde nesse momento placidamente jantava o Presidente da República. Assalto violento, e à mão armada, a um estabelecimento comercial, que muito provavelmente até foi detetado pelos agentes da Segurança do primeiro responsável pelo funcionamento das nossas Instituições. Crime aparatoso e muito bem documentado, gerador de alarme social e que foi da inteira responsabilidade de uma “tribo” de jovens, aparentemente sem conotações racistas. Há milhares de anos que os Estados se formaram por razões de segurança, uma preocupação muito anterior à educação e saúde. Depois de tantos e tão recentes incêndios em automóveis e ataques nunca vistos a escolas públicas, repartições, hospitais, quartéis de bombeiros e até esquadras de polícia, por parte de grupos organizados, este deplorável episódio é mais uma clara demonstração de como o Estado Português se demitiu de cumprir a primeira das suas obrigações. Insisto, a obrigação de defender a vida das pessoas e a segurança dos seus bens. Neste crime, na aparência motivado apenas pela “adrenalina da delinquência” e pela inconsciência da impunidade, acabaria em “águas de bacalhau”, por ora encerrado com a aplicação de medidas preventivas mínimas de coação, previstas na lei. E só três cidadãos, entre as dezenas de envolvidos, foram incomodados. Uma decisão judicial controversa, e consequente ação policial ineficaz, tremendamente mais leve do que aquela que foi aplicada aos membros da claque do Sporting, em situação análoga. Estes, afinal, adeptos do futebol acusados de terrorismo e que até teriam “atenuantes”: uma paixão clubística exacerbada pelas frustrações, velhos diferendos entre partes, uma situação que despoletou inesperadamente em asneira e, sobretudo, um crime em que ninguém resistiu e nenhum agente da autoridade saiu ferido. Com o título “Todos somos Sporting!”, que lição pretendo retirar? Que os delinquentes do Sporting merecem o perdão dos seus crimes? Nada disso! Simplesmente que se há moralidade, “come” tudo pela mesma colher, que a Justiça não pode olhar a credos religiosos, etnias, clubes desportivos ou classe social. Tenho a certeza que 99% dos portugueses, sobretudo os adeptos do Sporting que só têm razões para se sentirem ainda mais enxovalhados, partilham desta minha opinião. Fica, contudo, em todos nós portugueses, uma amarga dúvida que urge esclarecer: Como acreditar na autoridade do Estado, e no normal funcionamento da Justiça e das nossas Instituições, quando até o Supremo Magistrado da Nação, sem ninguém ter tirado as devidas consequências, se viu envolvido em tão mediático incidente? Vai mais uma “selfie”?