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sábado, 20 de fevereiro de 2010

O FUTEBOL E O DIÁLOGO SOCIAL EUROPEU - 1

INTRODUÇÃO

Abordar a temática proposta para este trabalho devemos ter em conta que o desporto moderno é o resultado de um conjunto de processos sociais, decorrentes de um período específico. O futebol, por exemplo, floresceu próximo dos centros urbanos e industriais, focos da expansão de uma economia capitalista caracterizada por uma complexa divisão social do trabalho. Para além disto, o futebol é ainda um dos primeiros eixos de uma cultura de lazer em processo de massificação. A prática amadora do futebol, jogado por jovens ingleses da elite aristocrata e burguesa rapidamente foi apropriada por outros grupos sociais.
O processo de construção da Europa na vertente unitária tem seguido o seu rumo, com diversos obstáculos. No entanto, o futebol tem conseguido ser promotor de inúmeros diálogos sociais, políticos, educativos ao longo de décadas, não será incorrecto afirmar que “as chuteiras não têm pátria”.
No entanto, o futebol também deve ser visto sobre o prisma da socialização do projecto ou seja da própria nacionalização da sociedade dado que o argumento da unidade nacional é fartas vezes convocado. Se extrairmos a questão da representatividade do país, resta-nos os aspectos regionais, bairristas que em inúmeras circunstâncias se projectam no clubismo e na defesa das cores em competição.
Se estudarmos o fenómeno com maior profundidade, o que não será possível neste trabalho, será licito concluir que o processo de globalização do futebol poderá ser mais propriamente concebido observando uma profunda alteração nas leis da FIFA. Uma alteração que rompe, no mundo do futebol, com a eternidade do vínculo nacional e, nesse sentido, com uma imagem de pureza que revestia a nação imaginada em equipa. Em diferentes esferas das sociedades, um indivíduo poderá, de acordo com a diversidade da leis nacionais, adquirir uma nova nacionalidade e respectivos direitos e deveres; no caso do futebol (profissional), tal era, até há muito pouco tempo atrás, impossível.
Ao nível de clubes, a admissão de jogadores estrangeiros foi-se desenvolvendo heterogeneamente e o acórdão Bosman simbolizou uma mudança importante. Contudo, a nível de selecções, o poder de regulamentação da mobilidade está centralizado na FIFA.
Ora, neste trabalho que nos propomos apresentar é possível constatar que o futebol avançou em certos aspectos de uma forma mais atendível no diálogo entre os intervenientes, estivessem estes sob égide de qualquer tipo de regime político, ao invés nos últimos anos tem sido um pouco ao contrário. O poder político europeu, através ou não dos governos nacionais começou a olhar para o futebol, não como algo fora da integração europeia, mas como uma fortíssima actividade económica, a qual apesar de especificidades próprias, tem que se reger por normativos comunitários.
Tentaremos ao longo do trabalho abordar o futebol nas diversas vertentes, sejam elas de natureza profissional ou apenas recreativa e educativa e ainda a forma como alguns dos instrumentos doutrinários e normativos tem sido amplamente discutidos e difundidos.